2008-09-25

Sou contra o casamento de homossexuais!

Agora que já tenho a vossa atenção deixem-me explicar.

Não me incomoda nada que os homossexuais casem, mas não acho que tal deve ser permitido por lei, num futuro próximo.

Contraditório? De modo nenhum. Ainda não há muito tempo votei pela despenalização do aborto, apesar de ser contra o aborto. Nem sempre considero que a minha opinião dever ser traduzida na lei. Considero que, no caso do aborto, havia uma razão importante de saúde pública para resolver. Não encontro tal urgência na legalização dos casamentos homossexuais.

Com certeza que defendo um lei de união que conceda aos casais homossexuais os mesmo direitos atribuídos ao casais heterossexuais. Penso que tal lei já existo mas, não sendo especialista no assunto, não sei se tem alguma deficiência. Se tiver é um assunto que gostava que fosse discutido. Tal lei deverá obviamente ser estendida aos heterossexuais. Tanto num caso como noutro sempre a pedido dos interessados.

Mas pergunta-me se não é uma hipocrisia defender um conjunto de direito muito semelhante ao casamento, e negar o casamento. Bem, é tanto hipocrisia como ter todos os direitos da casamento e levantar o problema só porque lhe falta um papel ou um título. Ou consideram que não ser casado é uma situação degradante - ofendendo todos os que não escolheram essa forma de relacionamento - ou então é simplesmente um "pensamento mágico", segundo o qual uma denominação produz por si só efeitos. É como pensar que chamar invisuais aos cegos têm alguma influência na sua qualidade de vida ou, quiçá, melhora a capacidade visual.

Mas há alguma desvantagem no legalização do casamento homossexual? Existem várias. A principal é claro, que isso é uma batalha difícil que trará muito pouca vantagem. Na verdade isto servirá como arma para as forças mais obscurantistas, as igrejas, terem uma oportunidade de reunir as suas tropas e ir à conquista de fiéis. E claro surgirá o argumento que provará que os homossexuais são uns infelizes que só pensam em regressar a alguma normalidade por via do casamento.

Será perder anos durante os quais se tornou razoavelmente consensual que o que se passa na privacidade entre adultos não deve ser uma questão pública. Esse sim foi um avanço consolidado. Essa era uma luta urgente que retirou muitas pessoas do risco de serem presos e humilhados públicamente. Consolidado mas não irreversível, cuidado.
As conquistas civilizacionais não se fazem pelas elites urbanas e instruídas. Tais pseudo-avanços serão revertidos na primeira oportunidade, com juros acrescidos.

E, numa altura em que a instituição casamento está tão desgastada, pedir para que os deixem casar é apenas um contributo para quem quer considerar o casamento com uma coisa indestrutível. E é uma atitude bem burguesa. Imagino que o que querem e um casamento de arromba, com os sinos a tocar e um copo de água opíparo com a família a chorar a noiva de branco. E se se arranjar um padre de uma religião qualquer tanto melhor imagino eu.

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