Na minha modesta opinião o partido que ganhou as eleições, apesar do nome, tem um programa muito moderado, e tem tido um comportamento, que não pode deixar de ter a minha admiração.
Bem há aquela coisa de se ter aliado com um partido de direita, populista, xenófobo, homofóbico, e clerical, comparável à frente nacional em França. Não é um partido fascista (como a FN não o é) mas está claramente à direita da maioria dos partido com acento parlamentar na UE. Mas não estou suficientemente dentro dos detalhes da situação Grega para criticar de imediato.
A proposta do Syriza são de elementar bom senso e, se conseguissem reunir consenso no seio da União poderiam representar uma hipótese da Europa sair do profundo fosso a que, políticos sem visão e focados nos seus próprios interesses, a conduziram.
É evidente que a dívida grega, tal como a portuguesa, nunca será paga, e entretanto sacrificam-se gerações se qualquer sentido e, o que é pior, sem que esse sacrifício conduza a alguma coisa de melhor.
A arrojada experiência grega poderia conduzir as multidões que sentem, com razão, que estão a ser roubadas pelos cartéis de banqueiros e advogados, numa trajectória democrática e renovadora.
Dito isto, temo o pior. Não estou a ver como os poderes que gerem o capital internacional possam permitir que o Syriza cumpra o que prometeu.
E não estou a ver como os eleitores alemães vai aceitar pagar a conta.
Se o problema fosse só a Grécia talvez a situação fosse manejável, mas existe Portugal, Espanha, Itália e talvez mesmo a Irlanda (sim, são os PIIGS).
Se as troikas permitissem alguma renegociação substancial dariam um empurrão valente a partidos, novos ou antigos, para proporem medidas semelhantes.
Vamos-nos deixar de generalidades. O governo da Grécia vais, nos próximos meses, e como é óbvio aplicar o seu programa de governo. Como resultado a bolsa de Atenas vai cair e modo acentuado, o que não terá um impacto significativo sobre a economia mundial, já que a Grécia é apenas uma parte diminuta da economia global. Pelo mesmo motivo o euro irá sofrer alguma coisa, mas nada de muito importante.
Até aqui nada de especial. Um governo eleito democraticamente faz aquilo que acha que deve fazer.
O problema vai surgir quando a Grécia precisar de empréstimos no estrangeiro. E vai precisar, nos próximos meses.
Estes empréstimos não lhe vão ser concedidos. Não serão concedidos sem que a Grécia aplique um certo número de medidas que não vai poder adoptar sem o partido no poder implodir.
Na falta desse dinheiro a Grécia entrará de imediato numa situação de crise económica e social. Não, a China a Rússia e a Venezuela não vão meter nenhum dinheiro.
A atempada entrega de ajuda de emergência (comida, roupas, medicamentos) por parte das agência comunitárias vai evitar uma crise humanitária, mas as percussões terão um alcance enorme.
Não posso acabar este artigo sobre a Grécia sem deixar de falar da morte de Demis Roussos (Artemios Ventouris-Roussos). A maior parte da obra dele não é do meu agrado. Até tinha um colega de faculdade que se lhe referia a ele através de um trocadilho do primeiro nome com o nome do órgão sexual viril.
No entanto é de assinalar alguns momentos notáveis na sua carreira como a interpretação do tema "Tales of the Future", incluído na banda do filme "Blade Runner".
De qualquer maneira deixo outra notável interpretação (até que o youtube corte a ligação). Demis Roussos é a voz, claro e Vangelis (Evangelos Odysseas Papathanassiou, a quem estavam destinados voos mais altos) está nas teclas e numa espécie de gaita . Como eles eram jovens e magros (e eu também).