2015-07-01

O euro e o bitcoin

Bem o que vai acontecer ao euro?

Não sei. E não acredito que alguém saiba.

Claro que é de esperar uma correcção (nota:correcção é o eufemismo dos mercados para desvalorização) no valor do moeda única e nos papeis em bolsa. É natural e saudável uma perda de valor da ordem de grandeza do que se vai perder com o dinheiro emprestado e não reembolsado. Emprestar dinheiro é uma actividade arriscada, com lucros e perdas potencias.

Agora, poderemos estar no início de um terramoto financeiro?

Poder, podemos, não há nenhuma razão objectiva para tal, mas os mercados são altamente irracionais e, principalmente, sujeitos à acção de especuladores. Lembro-me do que aconteceu à libra esterlina circa 1992.

Especular contra governos é uma actividade extremamente lucrativa para alguns. Penso que a larga maioria dos especuladores perde dinheiro, mas uns poucos armazenam lucros fabulosos e as notícias sobre isso atraem uma multidão de gananciosos. E, em regimes democráticos, nem os governos podem lutar contra multidões.

É um pouco coma a lotaria (ou os jogos no casino). Em média todos os jogadores perdem dinheiro, pelo que jogar faz muito pouco sentido. No entanto ninguém vai entrevistar quem perde regularmente 100 euros todas as semanas a jogar. Quem é referido na TV são os vencedores e a fortuna que meteram no bolso. Isso atrai a atenção, desperta a avidez a permite, em última análise, que os jogos existam.

No entanto à outro lado da moeda. é que existe muita vontade política e muitos recursos para se oporem ao caos.

A união europeia pode juntar muito dinheiro, pode cunhar moeda, mas, talvez mais importante, os Estados Unidos e a China vão disponibilizar algum. Podem ficar admirados de por aqui a China, mas se há alguma coisa que a China abomina é a instabilidade económica.

Agora uma coisa eu estou certo. Se for desencadeada uma crise económica na UE, que não seja acompanhada de uma crise semelhante a nível mundial, ficará provado que o euro não tem capacidade de resolver crises mesmo que essas crises tenham na sua génese valores relativamente pouco importantes.

Ficará para sempre exposto a que qualquer pretexto seja usado nos ataques contra ele. Será um pato coxo.

Nesse cenário será melhor começarmos todos a pensar em enterrar a moeda. Melhor se devagar e sem grandes distúrbios. Se possível. Não vai ser pêra doce.

Digo sair da moeda, não da União. Para já não penso que possa haver motivo para tal. No entanto muitos partidos populistas, um pouco por toda a parte, vão tentar aproveitar a boleia.

Também:

Será interessante ver a variação do bitcoin nos próximos dias. Não vejo nenhuma razão para o bitcoin se valorizar. Os gregos, se procederem racionalmente, tentarão sim passar tudo a dólares ou a euros, e mandar isso para fora do país, sim os euros podem ficar um pouco instáveis, mas que ninguém prevê que essa instabilidade seja superior à instabilidade dos bitcoins.

As restrições ao movimentos de capital tornam difícil exportar qualquer coisa que vala dinheiro , mas as mesmas restrições tornam difícil comprar bitcoins. Quem tiver bitcoins para vender dificilmente vai aceitar como pagamento valores que não possa fazer circular livremente. Dificilmente vai aceitar EXCEPTO se lhe pagarem muito, mas mesmo muito bem.

E reconheço que quem conseguir obter bitcoins ficará com uma moeda que pode muito facilmente ultrapassar limitações administrativas. Ter bitcoins será um "ter dinheiro lá fora, cá dentro", um offshore acessível a todos. Resta saber a que custo.

Tudo isto junto cria um sentimento irracional à boleia do qual se pode ganhar - ou perder - muito dinheiro. Uns dirão que isso é a tragédia dos mercados. Outros que é a sua beleza.



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