2016-03-02

A Apple a defender a privacidade, ou o mundo de pernas para o ar

Andam a ver tudo de pernas para o ar. Acreditem.

Claro que sou a favor de que o governo americano obrigue a Apple a descodificar o tal telemóvel. Não pelas razões que se possam pensar, mas exactamente pelo seu contrário.

SE é possível essa descodificação - e tudo indica que sim - esse processo vai cedo ou mais tarde vai chegar a muitas mãos. Por via judicial, extra-judicial, por espionagem ou por sedução. Vai chegar, muito pode Apple carpir, é um assunto que lhe vai sair das mãos.

A Apple bem pode estar muito viril com o administração Obama, é óbvio, tem aliados de peso e é bom para o negócio, como o é sempre que se consegue baralhar o consumidor. No entanto se, digamos o governo Chinês, em segredo, lhes pedir o mesmo, em troca de uma boa fatia do apetecido, mas muito protegido, mercado nacional não tenho a certeza que se fossem revelar tão amantes da liberdade. É cá um palpite.

E quem diz Apple, diz Microsoft, Google, Facebook e todos os outros.

E falo do governo chinês por razões dramáticas. Muito outros governos (incluindo o americano) têm poderes legais para fazer tal pedido com expressa proibição de divulgação dos factos e "promessa" de julgamento à porta fechada (se bem que os incentivos monetários funcionem geralmente melhor).

Enquanto a privacidade ou a segurança for um privilégio outorgado por uma empresa - ou seja lá pelo que for - não é privacidade nenhuma. Desse modo vai vale deixar de  antes a fazer de conta, a fingir uma segurança que não existe já, e dar a chave ao FBI ou à NSA ao à CNN. Tornaria tudo claro mais cedo e ninguém iria confiar nesses esquemas. Assim muita gente vai continuar convencida que estão protegidos dos vilões deste mundo pela...ROFL...Apple.

E, evidentemente, não tem de ser assim. Existe a possibilidade de encriptar a informação do telemóvel de modo a que a sua leitura só seja possível por uma password unicamente na mão do utilizador. A coisa até foi simplificada graças à tecnologia das chaves assimétricas. Não é fácil de explicar, mas é uma tecnologia bem conhecida (e usada) à uns 30 anos, pelo menos. Se tal tecnologia tivesse sido usada a Apple iria responder simplesmente "o que nos pedem é impossível, qualquer matemático que tenha estudado 2 anos na especialidade pode testemunhar que não se conhece na comunidade técnica e científica algum modo de fazer o que nos pedem".

Lamentavelmente muitos grupos de defesa dos direitos de privacidade não estão a ver bem o quadro completo. Há o impulso de vir à praça pública defender "a privacidade". Mas é um canto de sereia.

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