2014-11-30

sobre o ISIS - Parte 2 (futuro)

Qual o futuro do ISIS. Vejamos capítulo a capítulo.

Financiamento

O saque tem-se revelado uma actividade muito lucrativa, mas a sua repetição dará cada vez menos. Os resgates de prisioneiros também é uma actividade que vai diminuir à medida que o número de possíveis cativos lucrativos, dispostos a viajar para a região, for diminuindo.

O lucro com a venda de petróleo, principalmente através da Turquia, só pode diminuir. Para já o petróleo está barato, mas mesmo que aumente, os poços de petróleo são alvos fáceis par ataques aéreos. Não serão todos de um dia para o outro, mas é sempre muito  mais fácil de destruir, do que por de novo em funcionamento, para quem disponha de superioridade aérea indisputada. No caso do ISIS conseguir pôr a funcionar refinarias ou portos esses tornar-se-ão alvos bem mais fáceis que os poços.

Também o fluxo de dinheiro recebido dos estados xiitas prósperos da área (à frente a Arábia Saudita) tenderá a ser fortemente limitado. É um facto que religiosamente a ISIS é muito próxima das petro-monarquias. No entanto o facto de terem proclamado "o califado" faz arrepios na espinha dos monarcas da região, desafiando abertamente a sua legitimidade como chefes de estado. Como resultado irão reagir de modo a estancar esse fluxo. E não têm a reputação de ser meigos.

Em breve o ISIS vai precisar de alimentos, munições, manutenção, veículos e comida. Não estou a ver onde os vai obter e como vai pagar.

Recrutamento

O ISIS tem recrutado entre os xiitas no Norte do Iraque, de entre os convertidos à força, de entre fiéis a Saddam Hussein e entre comunidades muçulmanas por todo o mundo. Todas estas fontes estão próximas  já do seu limite (o recrutamento internacional é pequeno, apesar de grande cobertura mediática).

Muitos do combatentes do ISIS aliás só se mantêm na força porque receiam todo o tipo de represálias. Por isso o ISIS coloca os voluntários internacionais nos vídeos mais sangrentos, A mensagem é óbvia: se regressarem serão acusados de crimes contra a humanidade.

(Um programa que permitisse o regresso, com acusações mitigadas, em troco de colaboração,  informação, infiltração e propaganda seria uma boa ideia).

Território

O estudo da História é uma coisa útil. Em 1967 o Egipto preparava-se para atacar Israel, tendo junto forças armadas numa superioridade de 1 para 3. E tinha atrás de si o potencial militar e económico do bloco de leste.

No entanto, num ataque aéreo de surpresa, Israel destruiu a força aérea egípcia. A partir daí os aviões puderam destruir de modo metódico o exército árabe que incluía um elevado número de tanques. A guerra durou apenas 6 dias. Esse é o modelo contra o qual o ISIS se defronta, numa geografia semelhante (e muito diferente da geografia do Vietname onde a selva e o clima tornaram a aviação menos efectiva).

Todo indica que a coligação que se opõe ao ISIS vai manter a calma. Pode permitir-se ao luxo de deixar alguns ganhos territoriais, apoiando com ataques e abastecimentos aéreos todas as forças anti-ISIS na região.

Até onde pode ir o ISIS? Será talvez parado pelas forças curdas a N/NE. Mas mesmo que não o seja será parado pela Turquia. Para já a Turquia lucra com o conflito, ganha com o transito de petróleo do ISIS e enfraquece os curdos. Mas tudo mudará se sentir ameaça directa.

Mais a W poderá controlar a Síria, mas o controlo total da Síria é improvável, não impossível, mas improvável. Há por lá os xiitas também cabeça dura e com a ajuda da aviação, serão um factor bastante desgastante do ISIS.

O Líbano é um alvo possível mas não particularmente valioso.

A Jordânia quando esteve quase a ser anexada pela Síria em 1970 e escapou quando o rei pediu "auxílio proveniente de qualquer quadrante". Israel enviou os seus aviões a a Jordânia sobreviveu. Tudo indica que algo de semelhante se possa vir a passar, se o ISIS se deslocar para esse lado. Israel também dispõe das fotos remotas obtidas pelos americanos.

A autoridade palestiniana é também um alvo possível do ISIS, mas os recursos ganhos serão muito magros e a reputação muito manchada.

As forças do ISIS podem chegar à fronteira com a Arábia Saudita. Mas a Arábia Saudita tem umas forças armadas, incluindo aviação, bem preparadas e equipadas. E o apoio incondicional dos americanos.

A sul o ISIS faz frente com o Iraque xiita. Sobre a linha de Badgad - onde as seitas têm a sua linha de separação - os combates podem ser ferozes e incertos, mas é improvável que o ISIS faça um avanço significativo sobre o coração xiita do Iraque mais a sul.

A Este fica o Irão. Não é verosímil que o Irão ceda um metro de terreno aos seus arqui-inimigos. Muito mais fraco estava o Irão nos anos 80 e não cedeu.

Ao jeito de conclusão

De momento o ISIS vai manter o território que ocupa, usando as populações como escudo e cometendo ao mesmo tempo as barbaridades a que nos tem habituado. Não é bonito, mas também não vejo o que se possa fazer. As vítimas poderão resistir usando lasers para marcar alvos, o que será uma boa ajuda, mas não podem fazer muito mais, e mesmo isso será a um custo pessoal elevado.

O ISIS pode escavar túneis para escapar aos bombardeamentos, mas o que é que vão lá pôr? Para quê? Podem esconder tropas, mas as tropas nos subterrâneos têm pouco impacto militar.

Podem incendiar poços de petróleo, que não há muito mais coisa para arder, mas os efeitos serão limitados e com isso vão destruir uma possível fonte de rendimento (nada bom para o ambiente concedo).

O ISIS pode desencadear ataques suicidas muito sangrentos em qualquer ponto da região, usando muçulmanos xiitas infiltrados. Pode mesmo fazer atentados nos Estados Unidos, na Europa, no Canadá, se bem que nesse caso o mais provável é que esses ataques venham de pequenos grupos obscurantistas cuja inspiração tanto pode vir do ISIS com da Al-Qaeda, como de qualquer outra força que lhes pareça apropriada.

O Oriente terá de aprender a viver com essa ameaça. Vais ser muito sangrento, mas sem real valor militar. Lambam as feridas e habituem-se. Isto inclui, à escala mais reduzida, Israel.

O Ocidente terá de aprender a viver com essa ameaça, que permanecerá muito para além do ISIS, É uma ameaça estatisticamente pouco significativa, mas o pânico pode ser gerado. Evitem aglomerações e habituem-se.

Também há o perigo da América ser levada a enviar tropas para o terreno. Não estou a ver como pode ter necessidade disso, mas a pressão da opinião pública pode causar essa tentação. Será um erro. As mesmas opiniões públicas serão as primeiras a gritar quando começarem a ver os corpos a voltar em sacos, mesmo que num número não significativo.

Mas à medida que o tempo passar o ISIS será casa vez mais desgastado. Não tem o tempo do seu lado.

Os muçulmanos no ocidente serão obrigados a tomar posição, mesmo que seja não tomarem posição nenhuma, o que será didáctico.

E, claro, uma gestão de inteligente da situação pela administração Obama pode dar aos democratas as eleições em 2016, altura pela qual o ISIS terá passado os seus melhores tempos. Um desenvolvimento muito positivo. Não é certo mas podemos ter uma certa esperança.

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