2015-10-31

A Cavaco quer dar posse a um governo de esquerda! (não kidding)

O chocolate branco é preto?

Então não percebo como não estão todos a ver que o Cavaco quer mesmo dar posse a um governo de esquerda? É uma gambito.

Claro que ele teria preferido dar posse a um governo com maioria parlamentar da PaF, ou um governo PaF que tivesse amarrado uns socialistas para terem a tal maioria, mas isso não é pura e simplesmente possível. A realidade é uma cadela.

Então que querem, o que querem realmente o Cavaco e a PaF? (no seguinte as expressões "PaF" e "Cavaco" são, como sempre foram, comutáveis já que isso de o presidente ser apartidário é, e sempre foi, uma treta, como não poderia deixar de ser e e pensando bem, eu até gosto que seja assim - dentro dos limites constitucionais - pelo menos assim podemos saber com o que contamos).

Se o Cavaco não pode formar um governo como pretendia, em primeira escolha, o que é que ele quer, o que é que ele realmente quer? E, perguntando o mesmo, o que é que ele não quer?

Alguns andam por aí a pensar que ele não quer dar posse a um governo à esquerda da PaF e que o discurso que fez foi papati patatá. Ora ele fez o discurso que fez - e que eu não ouvi porque a minha paciência é limitada - foi feito exactamente para poder indigitar um governo à esquerda e apesar disso poder dizer que não queria.

Dito de outra maneira quererá o Cavaco um governo PaF demissionário, sem programa nem orçamento aprovados, a governar durante 6 meses?

Outros falam de um "governo de iniciativa presidencial" sem notar que se está a falar exactamente da mesma coisa. Um governo a governar sem ter o programa nem o orçamento aprovados (e até ferido de algumas moções de censura, que na realidade não acrescentam nada de facto). Com vida limitada ao mínimo que a constituição permite, já que nem um presidente PaF poderia deixar de dissolver a assembleia nessa caso.

E isso com um parlamento hostil a aprovar dia sim dia não  qualquer coisa contra o governo, e enquanto isto a explodir algumas bombas (orçamento a entregar em Bruxelas, TAP, bancos, e mais uns tantos que eu não sei) expostas no parlamento. Alguma imprensa comprometida até poderia escamotear essas coisas, mas não será possível escamotear textos aprovados no parlamento, quer em plenário quer em comissão. E o tribunal de contas, sem saber o o que se faz sem orçamento aprovado, a por cá para fora documentos interpretativos de legalidade desconhecida mas capazes de irritar toda a gente e portanto também o governo.

Será que o Cavaco quer isso?

E enquanto corre a campanha para as presidenciais, com candidatos que se teriam irremediavelmente de pronunciar sobre a justeza e utilidade de um governo da PaF?

Penso que não quer. O que o Cavaco quer é dar posse a um governo do Costa.

Claro que tal estratégia tem os seus riscos para Cavaco. Um governo pode mesmo aprovar leis que efectivamente prejudiquem os eleitores - e os financiadores e e os políticos - da PaF.

Mas esse risco é relativamente limitado se o governo só estiver em funções somente 6 meses. É exactamente esse o ponto. O risco de um governo liderado pelo PS só é realmente um risco para a PaF se durar, digamos, pelo menos 2 anos.

Aqueles familiarizados com o xadrez sabem daquilo de que estou a falar. De um gambito. A troca de um valor presente numa estratégia para tentar recuperar um valor maior no futuro. Entregar 6 meses na tentativa de ganhar 2 (ou mesmo 4) anos.

O boys infiltrados pelo aparelho da PaF no aparelho de estado teriam em mãos uma limitação de estragos que um conhecido aparelho de estado, e poder judicial,  de grande inércia demorariam a infligir.

Aquilo com o que o Cavaco está a contar é que um governo de Costa, mesmo que com o apoio formal de todas as forças à sua esquerda - o que ainda não é certo que possa acontecer - não vai aguentar até à data em que um novo presidente possa dissolver o parlamento.

Entretanto teríamos um governo PS, sob fogo franco da sua direita e fogo mais encapotado da esquerda.

Num tal cenário o único candidato presidencial capaz de ter  um discurso coerente seria o candidato PaF, o Marcelo. O Nóvoa, teria de dar uma no cravo e outra na ferradura e a MBelém teria que apoiar o PS, o que garantiria Belém (o palácio) a Marcelo.

E entretanto o Cavaco sempre poderia dizer - e foi essa a finalidade do discurso - que não tinha querido dar posse ao PS, que não tinha querido mesmo, mas que as suas responsabilidades constitucionais e elevado sentido de estado a a tal tinham obrigado. Que até tinha tentado outras soluções, não que fosse um presidente PaF, mas que só a PaF lhe tinha dado trela. O mais difícil seria dizer isso sem se rir.

Esse é há muito o plano da PaF, claro, e claro que não podem dizer, aliás nem se atrevem a comentar entre eles, mas todos no fundo sabem aquilo que é o melhor para eles. Aliás não são os únicos a saber isso, mas tanto num caso como noutro é má estratégia revelá-lo.

O gambito pode resultar? Bem na realidade não sei que não sou bruxo. A questão é que pode resultar, e são as forças envolvidas que, pela sua actuação, podem fazer a coisa tombar para um ou para outro lado.

A ver vamos, como dizia o ceginho. Não irá haver falta de quem aponte o dedo.

(e há outras situações do xadrez, quando nenhum jogador pode fazer nenhuma jogada válida, empatando a partida independentemente das peças de cada um, ou quando as mesmas jogadas são repetidas várias vezes).

2015-10-23

O meu diário óptico, com considerações

Dois oftalmologistas com diagnósticos discordantes. :-((

Este não é um problema nova para mim. Circa 1985 foi a um oftalmologista, comprei uns óculos novos e em breve me apercebi que a nova graduação receitada funcionava muito, mas muito, pior que a anterior.  Passado poucos meses foi a outro oftalmologista e, sem grande surpresa minha a graduação recomendada foi muito diferente.

A partir daí não tive outro remédio se não fazer de mim cobaia e nunca encomendar lentes sem comparar as receitas de pelo menos 2 oftalmologistas. E para meu desespero nem sempre as graduações são compatíveis. Meus ricos olhinhos.

Escusado será dizer, pelo menos para que me conhece, que só consulto profissionais de saúde da chamada medicina convencional (a que eu prefiro chamar medicina baseada em evidência) reconhecidos pela ordem dos médicos e/ou licenciados por uma universidade em que eu tenha alguma confiança.  Reconhecidos ou licenciados na especialidade e não suspensos. Salvo se falsificaram documentos.

Não me interpretem mal, sei bem que as medições têm necessariamente de enfermar de alguma imprecisão, um 1/4 de dioptria é perfeitamente normal , atendendo nomeadamente o facto de que as lentes usadas para teste estão calibradas de quarto em quarto de dioptria, pelo menos  nos casos em que pude verificar.

Mas sou confrontado com alguma frequência com variações de DUAS dioptrias. DUAS DIOPTRIAS E MEIA??? (ver abaixo).

A coisa complica um pouco porque existe a possibilidade de "contaminação" entre a graduação esférica e  a graduação cilíndrica. Na realidade são ambas lentes divergentes (no meu caso, por isso os valores são negativos)  e, isto é um pouco difícil de perceber, são complemente convertíveis numa direcção mas completamente não convertíveis na direcção perpendicular (a direcção do eixo). Exactamente como uma esfera e um cilindro são parecidos QUANDO olhando de determinada direcção. Mas mesmo assim DUAS dioptrias? DUAS DIOPTRIAS E MEIA??? (sim, ver abaixo, já lá vamos)

Ultimamente, desde 1999, a coisa tem corrido bem, com boa concordância entre diferentes profissionais. Porém nesta rentrée os dejectos  voltaram a encontra-se com a ventoinha.
Detalhes entre os valores das diferentes receitas abaixo. (sim, ver abaixo, já lá vamos)

Os valores estão em dioptrias (aka por metros)  excepto o valor do eixo que está em graus. A variação mínima testada foi de 0,25 dioptrias. No caso na medição do ângulo vi aparelhos nos quais seria perfeitamente possível medir variações de 0,25 graus, mas aparentemente todos os valores são arredondados para o múltiplo de 5º mais próximo o que me parece razoável.

OD=olho direito
OE=olho esquerdo

No fabrico das lentes usa-se frequentemente outra notação (ouvi alguém chamar-lhe "notação transcrita" ) cuidado a comparar graduações se os valores são todos completamente diferentes.

Mas aqui vai o meu diário óptico.

Técnico 1 (oftalmologista) 2015-09-19:

Saí do consulta, ainda antes de ler, muito menos comparar, os resultados, com a convicção que o resultado final não tinha sido satisfatório.


   Esfera      Cilindro      Eixo             Add.


OD  -2,50       -0.50         110º             +2.50                   
OE  -2,75       -1.00         090º             +2.50  


Técnico 2 (oftalmologista) 2015-09-25: Por larga margem este técnico usou o equipamento mais rudimentar e tecnologicamente mais antigo, de tudo o que vi recentemente.


    Esfera     Cilindro      Eixo             Add.


OD  -0.75       -2.50         115º             +3.00                   
OE  -3.00       -1.00[1]      060º[2]          +3.00

Técnico 3 (optometrista) 2015-10-22:

No exame utilizou técnicas e aparelhagem que me pareceram superiores às dos outros, nomeadamente na estimativa do valor do eixo e de desequilibrios entre OD/OE, isto para além do teste de diversas graduações que todos fizeram de modo mais ou menos igual. Não sendo um médico confiaria menos nos diagnósticos que não se relacionam com graduação se fossem diferentes (não foram, felizmente essa parte continua tudo a 100%). Este técnico foi informado, antes do exame, que já tinha consultado 2 oftalmologistas com resultados divergentes, mas as receitas não lhe foram facultadas. Fiz isso para manter o examinador com menos tentações de se baldar ao cuidado.


    Esfera     Cilindro      Eixo             Add.


OD   0.00       -2.75         110º             +2.50                   
OE  -3.00       -1.25         070º             +2.50


[1] O duplo zero é ilegível, mas pelo que tenho visto que as única opções parecem ser "00", "25", "50" e "75", pelo que a interpretação "00" é imediata.


[2] Na receita vem, claramente, 0,60, porém sendo em graus, indicaria uma precisão irrelevantememente elevada. Além disso 60 está em acordo razoável com as outras medições. NOTAS FINAIS:

Na parte a que os técnicos chamam "adição" - add. - (é uma escolha correcta do termo, de adição, soma, mas é uma escolha infeliz pois, pelo menos recentemente, o termo também se usa com o significado de "dependência") , e que se destina a corrigir a minha vista cansada, podem ser um pouco diferente conforme se corrige para objectos mais perto (jornal) ou mais longe (ecrã de computador). É um assunto a que tenho ainda que dedicar algum estudo.

Reparei que trocando a graduação esférica e a graduação cilíndrica do OD produzidas pelo técnico 1, a coisa toda faz muito mais sentido. Não salto para conclusões, mas...

Por convenção os eixos estão sempre entre 0 e 180º (ambos designam aquilo que se chama meridiano horizontal). 90º é a direcção vertical.

Uma consulta de oftalmologia tem-me vindo a custar tipicamente o triplo de uma consulta de optimetria, diferença ainda maior que o que se possa pensar tomando em conta que o IVA é 23% no seguinte caso.


Desde cedo verifiquei que a soma dos ângulos dos meus 2 olhos é sempre muito próxima de 180º, mas penso que é apenas uma coincidência. NO entanto traduz uma simetria como a minha mão direita para a minha mão esquerda, pelo que pode ser que tenha algum significado.

(continua aqui)

Links:

https://en.wikipedia.org/wiki/Eyeglass_prescription#Variations_in_prescription_writing  (vistado 2015-11-08)

https://en.wikipedia.org/wiki/Eyeglass_prescription  (vistado 2015-11-08)


2015-10-18

Continhas e Decisões

Penso que os candidatos do BE e do PC vão desistir ainda na 1a volta.

O que se irá passar se não desistirem? Bem, não sou bruxo, mas parece-me bem realista que 99.9% de quem votou PAF vote Marcelo,  60% de quem votam PS vote na MBelém, 40% do PS vote Nóvoa e os eleitores do BE e PCP votem massivamente no seu candidato.

Acrescente-se que se o BE  e o PCP apoiarem os seus candidatos, nenhum partido vai apoiar o Nóvoa na campanha, o que abre perspectivas à MBelém.

Isso vai tirar o Nóvoa da 2a volta. Onde até tinha alguma hipótese de ganhar, ver abaixo, somando suponhamos 90%+ dos eleitores do PS com BE+PCP.

Não digo que tenha os números, pois, como digo, não sou bruxo, mas dificilmente alguém me vai dizer que o cenário acima indicado é irrealista.

Em última análise tudo depende de como os votos PS se vão dividir, o que realmente ninguém sabe. Será que o BE e o PCP vão arriscar?

E já agora numa segunda volta entre MBelém e Marcelo como se iriam distribuir os votos. Fácil de constatar que a PAF votará no Marcelo e o PS na MBelém. A abstenção massiva do BE+PCP irá colocar Marcelo em Belém.  Se votarem substancialmente na MBelém a vitória está ao alcance.

E já agora numa segunda volta entre Nóvoa e Marcelo? Este cenário dará provavelmente a vitória a Nóvoa se bem que com algum equilíbrio, pelo que a previsão é difícil.

Claro que se este ou aquele resultado é bom ou mau, útil ou inútil, é uma decisão pessoal. Mas contas são contas.

2015-10-16

Deixem-me andar satisfeito

Descobriram o ET.

Existe algum consenso que uma civilização tecnologicamente muito avançada e capaz de gerir projectos a muito longo prazo, mas incapaz de abandonar o seu sistema planetário (suponhamos que vive num sistema planetário) tenderá a colocar em órbita, em torno da sua estrela, estruturas verdadeiramente gigantescas.

A finalidade imediata dessas estruturas seria recolher a luz emitida pelo seu sol para satisfazer o consumo de energia (suponhamos que, apesar de muita avançada não é capaz de extrair de modo seguro energia da fusão nuclear, mau agora para que se dedica ao assunto). Não é de por de parte que essas estruturas pudessem também acolher excesso populacional.

Eventualmente o número e dimensões dessas estruturas iriam evoluir de tal modo que capturariam toda a energia solar (graduando-se a civilização com o grau 2, por definição, outro dia falamos nisso).

Um caso especial da captura total da energia consiste em colocar uma esfera enorme com a centro na estrela. A esfera até pode rodar criando na sua superfície interior alguma espécie de gravidade. O sistema seria instável, mas há soluções.

E quem fala numa esfera fala em duas, Ou em anéis. Mas fica para outra ocasião também.

Durante a construção dessas estruturas, uma outra civilização, numa estrela distante mas tipicamente na mesma galáxia, poderia detectar as manobras porque as estruturas, sempre que passassem em frente do sol, do ponto de vista do observador, iriam encobrir, por um pouco que fosse, o brilho da estrela.

Não que faltem outros fenómenos, estes perfeitamente naturais, que possam provocar um variação, real ou aparente, no brilho de uma estrela distante.  No entanto nalguns casos é possível separar esse tipo de fenómenos uns dos outros atendendo a uma gama mais alargada de dados.

Ora bem, o telescópio Kepler em órbita detectou exactamente isso, na, em melhor em torno da, estrela KIC 8462852, a 1500 anos-luz da Terra e na constelação Cygnus (do cisne).

Sei bem que mais cedo ou mais tarde vai aparecer uma explicação mais trivial para o fenómeno, mas para já uma civilização extraterrestre é a explicação que melhor se adapta aos factos.

Existência de uma civilização mais ou menos contemporânea da nossa e capaz  de criara as estrutura detectáveis é uma enorme injecção de optimismo para quem, como eu, pensa que a nossa civilização, esgotadas as fontes de energia mais eficazes e sobre uma pressão populacional esmagadora, irá reverter a um estagio medieval, mais cedo ou mais tarde, e isto no cenário mais optimista.

Enfim, enquanto não se descobrir uma explicação melhor. ENCONTRÁMOS o ET! Deixem-me andar satisfeito.

2015-10-11

Uma coisa nova que pode mudar muito

Bem eu sei que o que vou escrever não vai ser fácil de assimilar de imediato, mas recentemente assistimos à introdução de uma tecnologia nova que, é o meu palpite firme, vai revolucionar o modo como usamos a Internet.

Seria a maior revolução a seguir à introdução ao protocolo HTTPS (sei, pouca gente sabe exactamente o que é isso, mas toda a gente o usa, é quando aparece o símbolo de um cadeado no browser e sem ele não existiriam compras na Internet).

Estou a falar das chaves seguindo o protocolo padrão FIDO-U2F. Que vão aumentar drasticamente a segurança na Internet. E outras aplicações. Não substitui as passwords, apenas as complementa (é o segundo factor de autenticação, sendo a password o primeiro).

A acedermos, com a chave e por exemplo, a uma conta da Google, bem a informação que está na google está sempre e obviamente acessível à Google (e a todos com quem eles compartilharem informação), mas isso não compromete a mesma chave noutros usos.


Uma chave FIDO-U2F da Neowave. Até onde sei não vendem para Portugal. O termo "Ready" significa provavelmente que ainda não foi certificado pela FIDO, mas estão à espera que tal se passe.


Esta chave custa apenas uns 7 euros.  Pode ser enviado por carta (antes de montar tem espessura de cartão de  crédito). À venda na Amazon ou no site pu1.fr. Não tem botão.

Nenhum dos modelos acima mostrados tem bateria, e não há código ou códigos a digitar. A chave funciona como um teclado e digita ela própria os códigos - sem se ver - quando o utilizador carrega num botão central ou simplesmente, noutros modelos, quando se introduz a chave (menos seguro? alguns dizem que não, e que até torna tudo mais resistente).

Mas vamos por partes. Falar de coisas que realmente não é preciso saber para se usar. Desde que confiem.

O QUE EU NÃO DIGO QUE DIGO: numa tecnologia em franca evolução toda a info pode fixar rapidamente desactualizada. Enquanto estudo o assunto vou fazendo fé na opinião publica de especialistas, até melhor julgamento.


Parte A Como existem múltiplas complicações vou começar por listar aquilo que a FIDO-U2F não é

1. Não tem nada a ver com biometria. Isso é confusão com a tecnologia FIDO-UAF. Também não tem nada a ver com "o fim das passwords", muito pelo contrário, apesar de essa ser a mensagem que tem vindo a ser passada por muitos media.

2. Não tem nada mesmo a ver com a biometria, muito menos com a biometria pré-FIDO. A biometria Pré-FIDO tem sido um completo falhanço, sendo caro, complicado e pouco segura, catastrófica mesmo. O caso extremo conhecido foi o governo americano que deixou que lhes roubassem as impressões digitais de todos os funcionários públicos, o que permite a qualquer um, em qualquer parte do mundo ter uma aplicação no telemóvel que lhe permita identificar se uma dada pessoa é, ou não, um funcionário. O padrão FIDO-U2F promete resolver o assunto da segurança mas, pelo que sei, ainda não produziu nenhum produto para o mercado e eu suspeito de algumas dificuldades técnicas com o processamento dos dados bio.

3. Não é Tecnologia OTP-2FA, pré-FIDO.

Sim ninguém sabe o que isso é, pelo nome, mas a maioria de nós já usou essa tecnologia quando o banco nos pede (o termo técnico é "desafia") para introduzir alguns caracteres de um cartão fornecido previamente ou um código (pin) enviado no momento para o telemóvel ou, numa versão mais sofisticada, para uma espécie de pager. Sempre uma boa maneira de nos convencer a dar o n. do telemóvel.


Ilustração de algumas implementações OTP-2FA mais ou menos correntes

É um método razoavelmente seguro mas exige uma infraestrutura mais ou menos dispendiosa.

No entanto à décadas que são conhecidas falhas neste método que podem ser exploradas combinando phishing com algum software muito bem concebido (mais fácil com implementações que não usem teclados virtuais).

Não é só teoria. Este ano surgiram pelo menos dois ataques bem sucedidos a essa tecnologia. O ataque a activistas iranianos e o ataque a uma instituição bancária. Isto o que se sabe. No entanto é bom frisar continua a ser um dos métodos mais seguros, até porque tem suportado bem o teste do tempo.

Existem alguma implementações realmente boas,  o RSA é o fornecedor de referência, mas os produtos são terrivelmente caros. O RSA é membro do consórcio FIDO e está a trabalhar no novo padrão, mas, pelo que sei, ainda não comercializa soluções baseada nesse método.

O OTP-2FA, pré-FIDO, vem em vários sabores, os mais conhecidos são  o padrão OATH-HOTP (RFC 4226)  e o padrão OATH – TOTP (RFC 6238). Há alguma controvérsia acerca da efectiva segurança desses padrões, a a sua adopção não tem sido fulgurante.

Parte B Mas afinal o que é o FIDO-U2F, e porque é realmente uma ideia inovadora.


4. Em primeiro lugar porque se baseia na matemática, com uma parte reduzida - e trivial - de hardware e é um padrão aberto que toda a gente pode usar livremente. O facto é que, simplificando um pouco, o padrão FIDO-U2F foi publicado à cerca de 2 anos e os seus fundamentos podem ser analisados por qualquer pessoa quem tal deseje.


Este modelo tem incluído um leitor de impressão digital, mas aparentemente que não é UAF e usa NFC.
5. Até ao momento os relatórios têm sido altamente favoráveis e muitas instituições muito importantes (a começar na VISA a MASTERCARD e a RSA) estão a pensar em usar. A Google (onde aliás a ideia se originou) já usa em todos os produtos e serviços, assim como a facebook (internamente) . O GitHub (para quem sabe o que é) a Dropbox já usam. A fundação mozilla  vai usar ... quase de certeza. A wordpress aspas bis. A lista tende a crescer. A adopção - ou a não adopção - pela mozilla pode ser o momento zen.

6. É uma solução barata e fácil de usar. Uma chave custa tipicamente 15 euros (se bem que actualmente os portes de correio possam encarecer significativamente) e alguns modelos pesam apenas 3 gramas (tem a massa de 3 g, pessoal da pesada! Em repouso). Pode ser utilizado em qualquer computador com uma porta USB2 (isto é, com menos de 15 anos). Podem ser usados em telemóveis com capacidade NFC, mas isso exige outras chaves um pouco mas caras. O uso no iPhone depende de uma versão bluetooth,  não sei quando ou onde disponível, mas que terá de levar uma bateria, penso eu (ou em alternativa a iPhone teria de abrir o seu sistema de NFC - pouco provável).

NOTA IMPORTANTE: embora se possa comprar chaves por 7 a 15 euros é talvez boa ideia pagar tipicamente mais uns 10 euros por uma chave que suporte também o padrão OATH-HOTP (RFC 4226), ou mesmo com o padrão RFC 6238  para um leque mais alargado de funcionalidades. Um dia falo nisso. Talvez.

A chave mais recente da YubiKey, introduzida em Maio de 2015, vendida a 18 dólares + IVA + correio. Pode compara-se na Amazon ou directamente no site do fabricante.  Pesa 3 g.


Chaves mais cara, mas com funcionalidades acrescidas (incluindo NFC, excepto a versão nano, a mais pequena, que pesa apenas 1 g). Enviam para Portugal. Também suporta 2 formas de OATH.

7. O padrão é livre E existe software livre para o seu uso. Isto é muito importante porque permite aos especialistas (e aos não especialistas) analisar com cuidado todo o processo.

8. Os seus usos são não-correlacionáveis , isto é, posso usar a mesma chave em vários sites e/ou para diferentes identidades (ou uma chave pode ser usada por várias pessoas) sem que isso permita aos fornecedores de serviço estabelecer uma ligação entre os diferentes usos. Há aqui, no entanto alguns detalhes. que não cabem neste resumo. Um caso importante é um dissidente que possa ser ligado a um site não-autorizado. Um assunto que requer reflexão redobrada por ser muito crítico.

9. Existe pelo menos um fornecedor que fabrica as chaves na Europa. Pelo meos uma companhia francesa está no negócio. Aliás qualquer companhia pode fabricar essas chaves pois é um padrão público. Isso ultrapassa limitações de exportação que possam existir. Quase todas.



Parte C Pois é, isso é tudo muito bonito, mas.

9. Existem algumas questões de segurança que não são ultrapassados (e ninguém sabe como ultrapassar). Em primeiro lugar há a questão de máquinas comprometidas, por exemplo por correr software malicioso. Isso exclui todas os acessos em computadores públicos e computadores com jogos piratados. No entanto o uso numa máquina comprometida apenas permite ataque aos serviços realmente usados, não comprometendo a chave em si, mesmo que usada. A password pode ficar na mão de outrem.

10. Pode existir uma defeito de fabrico nas chaves.  E em Portugal ainda só há um fabricante acessível. O harware não pode ser auditado de modo seguro.

11. Para os mais paranóicos. Algum organismo tenebroso pode ter introduzido portas do cavalo no hardware da chave. Pensando melhor todos os computadores no mundo têm processadores desenhados na América que podem estar alavancados (o publicado pelo Snowden não indica tal, mas pelo que sei, ele até pode ser um agente duplo).

12. Para quem usa computador ou telemóveis próprios numa ligação pública WiFi não segura (como são quase todas) o assunto é cinzento. A password vai ficar comprometida , claro, mas a chave não. Até aqui nada de novo. A vantagem sobre o uso numa máquina comprometida é que vai permitir um acesso seguro, mas é imperativo mudar a password logo que possível. Mas é um assunto que necessita ainda de algum estudo da minha parte.

13. Azar. Pode existir algum erro de base em tudo o que foi dito. O padrão tem apenas 2 anos e talvez tenha uma falha básica em que ninguém simplesmente reparou. A tecnologia de chaves assimétricas - na qual o padrão FIDO-U2F, tal como o protocolo HTTPS, se baseia - e suportado por "teoremas" que ninguém ainda provou. e que é sabido que falham, se bem que muito raramente. E os computadores quânticos prometem comer ao pequeno almoço as chaves assimétricas do tipo usado (não é público que alguém saiba construir um computador quântico a sério, mas...)

14. Existem janelas temporais (curtas) de fragilidade onde se tem de proceder com cuidado. Pelo que se pensa seria um azar imenso ser atacado mesmo nessa altura. Mas nunca digas nunca e há por aí pessoal com uma imaginação...

15. E existe o ataque "grande mestre de xadrez". Olho nisso. Penso que noutras tecnologias, onde esse ataque também é teoricamente possível, não há nenhuma notícia de sucesso. Conhecida.


Parte D O cartão de cidadão.

16. Existe outro método muito seguro do autenticação, cujo exemplo é o cartão de cidadão usado em Portugal.

O cartão possibilita uma autenticação muito segura, facilidade que penso não estar activada na maioria dos cartões e não conheço quem a tenha usado.

Teoricamente uma pessoa pode mesmo assinar um documento legal, com o password e com uma espécie de password associada.

Tem ponto de referência que depende de um organismo central, o que é uma questão importante. Exige hardware específico.

Mas isso é outra hsitória.


Siglas:

2FA - 2 (ou second) factor authentication

FIDO - Fast ID Online

HMAC - Hash-based Message Authentication Code

HTTPS - Hyper Text Tranfer Protocol Secure

HOTP - HMAC-based One-Time Password algorithm

NFC - Near Field Communication

OATH - initiative for Open AuTHentication

OTP - One Time Password

RSA - Rivest-Shamir-Adleman,  inicialmente uma tecnologia com patente - agora expirada - logo depois em empresa

TOTP - Time-based One-Time Password algorithm

U2F - Universal Second Factor

UAF - Alliance universal Authentication Framework

O link fundamental:

https://fidoalliance.org/specs/fido-u2f-v1.0-nfc-bt-amendment-20150514/fido-u2f-overview.html

Outros links:

https://en.wikipedia.org/wiki/HTTPS

https://en.wikipedia.org/wiki/Two-factor_authentication

https://en.wikipedia.org/wiki/Universal_2nd_Factor

https://fidoalliance.org

https://www.yubico.com

https://en.wikipedia.org/wiki/RSA_Security

http://www.amazon.co.uk/s/ref=nb_sb_ss_c_0_3?url=search-alias%3Dcomputers&field-keywords=u2f&sprefix=u2f%2Caps%2C285

https://en.wikipedia.org/wiki/Public-key_cryptography

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cart%C3%A3o_de_cidad%C3%A3o

Mais imagens:
















2015-10-09

Os meus concelhos para o Costa

Não, não vai haver acordo à esquerda. Nem à direita. E se houver não dura 6 meses.

Como o Costa do PS me pediu expressamente vou aqui dar-lhe uns conselhos. Gratuitos.

Sim o PS corre perigo de pasokização, à direita e à esquerda estão todos a esfregar as mãos, e é necessário algumas manobras à "crazy ivans".

Me desculpem se tenho alguma gralha nos prazos, valores, etc, mas para isso existe uma equipe própria do PS para se preocupar com detalhes.

O PS deve estabelecer o mais rapidamente possível os princípios.

(a) Não vai votar favoravelmente, nos próximos 6 meses, nenhuma moção de censura. Há algo de perverso em censurar um governo constitucionalmente empossado sem lhe dar oportunidade de governar, o contrário seria simplesmente censurar os resultados das eleições e as normas constitucionais. Um voto de censura será tanto mais bizarro quando se sabe que o parlamento não pode ser dissolvido.

(b) O PS vai fazer das tripas coração para viabilizar o programa do governo, seguindo um pouco o indicado em (a), mas...

(c) O PS não vai aprovar os próximos orçamentos caso o indicado nas alíneas seguintes não seja tido em consideração. A começar JÁ. Uma moção de censura, ou apoio a uma, daqui a meses também está em cima da mesa, quando a assembleia poder ser dissolvida.

O PS só vai vai participar numa coligação com parceiro ou parceiros que se comprometam a, salvo acordo bancadas num total de +50% dos votos:

(d) Repor o feriado da República de imediato. Repor um outro feriado à escolha do governo até segundo orçamento.

(e) Repor o máximo de 38 horas semanais até segundo orçamento e 35 até terceiro. Menos 1 hora por semana por cada ano a partir dos 60,  a partir do segundo orçamento, compensado pela segurança social. Estes valores podem ser compensados em férias, sem nunca se passar das 40 h/semana.

(f) Repor o valor das horas extraordinárias para um mínimo de +5% no caso geral e +10% em casos gravosos até segundo orçamento. +10% e +25%  até terceiro orçamento. Majorados por 15% quando o trabalho extraordinário representar mais de 10% do trabalho nos últimos 2 anos e a empresa tiver tido lucro na contagem desses 2 anos (a pagar no fim desses 2 anos. ou se quiserem isso entra como pagamento de dividendos).

(g) Não diminuir os gastos em saúde e educação/formação, quer no geral, quer na fatia entregue os serviços públicos.

(h) Dar um texto claro, e baseado na recente experiência, a condenar o enriquecimento ilícito. A ser aprovado na AR nos próximos 6 meses.

(i) Algum texto claro a aumentar a punição por fuga aos impostos, branqueamento de capitais, gestão danosa, tráfego de influências, apropriação indevida. Sendo os valores sempre proporcionais aos valores envolvidos. E a facilitar a sua condenação, sem fadiga dos direitos fundamentais. JÁ.

(j) Fim das isenções fiscais religiosas (não na parte de sociedade benemérita, como as outras) a implementar 20% ao ano e a começar no segundo orçamento.

(k) Aprovar uma resolução simbólica a pedir aos parceiros europeus que não entrem numa de facilitar a fuga aos impostos nos outros estados membros. E  pedir uma compensação aos que fizeram isso.

(l) Medidas no sentido de aumentar as indemnizações sem justa causa em 10% até ao segundo e +20% até ao terceiro. Majorados 5% se empregador tiver tido lucro no ano anterior e mais 20% se o empregador tiver lucro no ano a seguir, contados esses pagamentos (a segunda parte será paga após aprovado o relatório de contas seguinte).  No caso de estado deve ser mutatis mutandis.

(m) Garantias que o tratado orçamental, a permanência no euro, na UE e na NATO não serão postos em causa de modo unilateral nos próximos 4 anos.

(n) Qualquer coisa moderada sobre o trabalho precário, uma compensação quando as empresas derem lucro no acumulado dos 2 anos seguintes.

(o) Cada ano de estudo, completado com sucesso,  para além da escolaridade obrigatória, e num estabelecimento reconhecido, dará equivalência a 1/3 de ano de ordenado mínimo para efeitos dos direito à reforma e quando isso não prejudicar. Fora esse factor, os valores actuais não serão mexidos. O que se entende por escolaridade obrigatória será calculado em cada ano concluído. Note-se que isto influencia o direito à reforma e o seu valor e não a idade da reforma que será uniforme.

(p) Aumento do IVA se necessário, mesmo importante, excepto alimentos, saúde, educação e cultura básicos. Tb restaurantes, até certo valor por refeição, lavandarias até certo valor tabelado, infantários e semelhantes. Sei que há umas regras, imaginação.

(q) Aumento do imposto sobre imóveis a partir de certo valor por habitante da casa. Aumento dos impostos do automóvel em função da produção de CO2, (contabilizando todos os componentes e toda a vida) por km. Com clausulas de salvaguarda, que não agravem mais que 10% ao ano.

(r) Fim dos impostos e taxas sobre o trabalho que não dependam do rendimento.

(s) Alguma coisa inteligente sobre patrões e administradores que aldrabam, levam a corporação à falência e recebem indemnizações e reformas douradas aos 40 anos para irem acumular para outro lado.

(t) Uma estátua do Eusébio na 2a circular...do Porto.

Concluindo: não é o meu programa, nem o do PS, mas é necessário ler os resultados eleitorais. E é um programa que 70% dos portugueses irá apoiar.

Não penso que o PS tome essa posição, existe em demasia os quadros que querem arranjar desesperadamente uns tachos.

Também sei que no terreno o impacto destas medidas não será muito, já que a economia real anda sempre à frente. Mas marcava qual a direcção pretendida para o futuro.

Mas com estas declarações o PS marcava o espaço político e marcava calendário. Ficava tudo a saber e não se acumulavam rumores. Se a coisa desse para o torto ficava com posição marcada para eleições seguintes. E os outros marcados pela discordância.

2015-10-03

O que eu voto 3/3 - O voto útil.

Queria começar por fazer um elogia ao voto útil, que tal mal anda a ser tratado. Esta gente enlouqueceu. Só falta defender o voto inútil.

Infelizmente não voto por convicção. Nunca votei. Se votasse em convicção nunca votava. Nas não votar seria um voto inútil.

Também digo que não espero que a vida dos portugueses vá melhor nos próximos tempos. Há ventos de história a que não se pode resistir de imediato. E sim alguns portugueses têm andado a viver acima das suas possibilidades. Só falta dizer quais, e decidir onde se vão fazer os cortes. É aí a diferença possível.

Pensar de outra maneira é repetir os erros cometidos na Grécia (é pior porque nós podemos aprender com os erros cometidos na Grécia). O Estados Unidos podem negociar a sua dívida. A Ucrânia pode negociar a sua dívida. Israel pode negociar a sua dívida. Vai aparecer alguém com a massa.

Nós só podemos negociar a dívida com garantias reais, ou políticas, ou quando não nos tiver sobrado mesmo nada, nos tiverem levado tudo. De outro outro simplesmente não vai aparecer ninguém com a massa. O vil metal. Facto.

Se isso servir de algum consolo lembrem-se as condições em que se vivia em Portugal nos anos 60 e 70 (e provavelmente antes, mas desses eu lembro-me).

Por outro lado informo que sou defensor da capitalismo. Tenho esperança que apareça no futuro um sistema melhor, mas não apareceu nenhum que tenha dado provas. Nem lá próximo . O que não quer dizer que todos os regimes de base capitalista sejam iguais. E que o assunto não possa ser sujeito a discussão.

Que modelo defendo para Portugal? Um modelo que combata a burocracia, o nepotismo, o clientelismo, o corporativismo, a megalomania, a corrupção e o poder imenso que as corporações - que são todas de base financeira - têm sobre a economia e a política.

Um desenvolvimento baseados na ciência e tecnologia avançadas e amiga do ambiente, sem lirismos bacocos e baseada em modelos já experimentados só com um nadinha de invenção própria. Com base nos recursos que realmente temos (ou podemos adquirir sem grande custo) e em empresas e grupos ágeis e desligados do estado na medida do possível.

Colocando a país numa posição de defender a liberdade da informação, da privacidade pessoal mas não institucional.. Portugal tem o modelo do nearshoring nas novas tecnologias, aproveitando o clima, o cosmopolitismo, o respeito por quem é diferente, as boas ligações de comunicações e exportando os custos de energia+refrigeração, quando não for possível explorar alternativas baratas. Isto é apenas uma visão muito parcial da questão, mas é aparte com a qual se sinto à vontade.

Claro que não estou a desprezar a economia que tradicionalmente tem funcionada. Apenas a dar um direcção, pois penso que o que foi dito também se aplica.

Mas não é lirismo, No dia a dia convivo com muita gente, geralmente jovens, que vêm de outros países trabalhar em Portugal e por cá se radicam.  E os emigrantes portugueses, são uma mais valia, mesmo que a viver noutro país fornecem, para quem cá está, um canal de difusão de informação, nos 2 sentidos, precioso (e proporcionam pretexto para umas comemorações baris quando nos vêm visitar).

Mais, defendo um sistema fiscal que combata a fraude, no possível, centrando essa combate nas fugas milionárias aos impostos, fechando os buracos legislativos que o permitam e denunciando esquemas, cá ou no estrangeiro, que permitam essas fugas,

Uma rede social que assegure os cuidados básicos de saúde, habitação e educação, de modo a que as pessoas possam correr riscos profissionais.

Nunca nenhum partido teve o meu voto garantidamente, mas na actual circunstância voto PS. Um pouco por exclusão, assumo, mas é a vida.

O PAF tem como plano destruir toda a existente, apesar de fraca, rede de saúde e educação a preços controlados. Como poderão os trabalhadores assumirem os riscos de trabalho, necessários numa economia avançada e ágil, se tiverem a preocupação de pagar as contas do médico e da educação? Para além da casa e da comida.

Portugal entrará num modelo de desenvolvimento à chinesa, baseado em baixos salários, base de apoio às grandes corporações. Os irlandeses são o porta aviões dos Estados Unidos. Portugal pode ser o submarino da China, China essa que aliás nem está a passar um bom momento e portanto vai pagar mal.

Se calhar não há outro modelo, mas prefiro uns 500 mortos pela polícia, 1000 mortes à fome e 25% de desemprego antes de desistir de um modelo melhor.

O voto nos outros partidos é inútil. Mais nenhum outro, para além dos citados,  poderá ser determinante no governo. Poderiam eventualmente apoiar um governo PS? Vejamos.

O PCP nunca apoiará um programa do PS qualquer que ele seja. Não é assim que vem na "história do PC da US". Os parlamentos em que o PC não tem a maioria são parlamentos para encerrar (não dissolver, encerrar).  Não me lembro de ter acontecido de outra maneira. Com a oposição para a cadeia e fuzilada.

Não me lembro de algum PC-ML ter viabilizado alguma coligação, em algum lugar do mundo, nalguma data, a não ser a muito curto prazo, se não for o elemento mais forte. Lembrem-me algum caso que não tenha sido assim.

Podem dizer que se tem de encerrar a história, que isso já foi há 100 aos e em Portugal há 40. Eu digo que sobretudo não. Se a história não nos serve para nada, vamos passar outra vez pelos seus horrores. E claro o PC sempre foi firme ao afirmar que não renunciava aos seus princípios, portanto não há nada de novo a esperar.

O BE de esquerda pode apoiar o PS, certamente que pode, fazendo exigências que o PS não pode aceitar sem passar a imagem que está na rota do Syriza. E se o PS cedesse a essas exigências elas iram escalar. O BE tem o problema de não perder eleitorado para o seu adversário posicional, o PCP. Já antes tinha dito algures que o Syriza é o grande trunfo para as forças conservadoras da Europa ganharem eleições.

Acoitado a ser colado ao Syriza e simultâneamente suportar eleições a curto prazo o PS não teria alternativa de não ser distanciar-se e esperar pelo melhor.


2015-10-02

Interlúdio


Apesar da relevância coloco só para tentar que o meu blog não seja sempre ilustrado por uma foto de um comboio - tirada há anos atrás. Vamos ver se funciona. Roubado ao nad et al. que roubou ao quino.


O que eu voto 2/3 - Os programas e as ideologias

É um exercício frequente comparar "programas eleitorais", "compromissos eleitorais", "posição dos partidos".

Até há quem dirija cartas aos partidos a pedir-lhes que tomem posição sobre um certo número de questões e publique as respostas recebidas - ou  a falta de resposta.

Esqueçam.

Um partido que resolvesse só prometesse fazer aquilo que estava razoavelmente certo de poder fazer iria partir com um handicap  tremendo. Houve um deputado(?) qualquer do CDS, creio eu, que disse que nenhum partido poderia ganhar as eleições se não mentisse nas campanhas. Grande burburinho de todos os quadrantes. Mas estava cheio de razão (e provavelmente arruinou a sua carreira, provando que estava cheio de carradas de razão).

Depois terão sempre uma explicação a dar. É o resultado da crise mundial. Das imposições de Bruxelas. Do estado em que o governo anterior deixou o país. Dos fascistas, Dos comunistas. De não terem a maioria absoluta. De estarem em coligação. Das alterações climáticas. Tudo assuntos sobre os quais não tinham a mais pequena ideia à data das eleições.

Mas então ficamos sem bússola que nos possa guiar? Nem tanto. Podemos fazer uma leitura ideológica, quer directamente que por análogos (proxies).

Vamos portanto fazer uma análise ideológica (por ordem alfabética). Uso as designações mais correntes. O CDS é o CDS/PP e o PSD é o PPD/PSD.

BE

O BE é o novo miúdo no quarteirão. MAS leia-se o que digo do LIVRE.

Honestamente não gosto de blocos nem de frentes. Só se compreendem para satisfazer grandes desígnios nacionais e felizmente por pouco tempo. A hsitória mostra que rapidamente se destroem ou uma parcela hegemoniza.

Sendo o novo miúdo tem a vantagem de não transportar o peso da história passada. Vantagem para eles e dificuldade para a minha análise.

Na génese do BE estão, sem dúvida, personagens que vêm da área marxista-leninista (versões estalinita, trotskista e maoista, estão lá todas). Todas os dirigentes, passados ou presentes,  e que é possível ligar a alguma ideologia,  vêm dessa área.

Foram pessoas que, no virar do milénio, perceberam que as forças onde militavam só se mantinham vivendo na ilusão de um mundo que não existia. E que não tinham qualquer margem de manobra.

Se fizeram isso com verdadeiro espírito de mudança ou penas buscaram a oportunidade possível, talvez nunca venhamos a saber.

Marxismo-leninisto cujos resultados a nível mundial foram tremendamente catastróficos, sem uma única história de sucesso, e particularmente gravosos em assuntos de que o BE faz bandeira com a tolerância, o ambiente, a liberdade de expressão, a solidariedade social, o fim da corrida de ratos pelo ordenado ao fim do mês. Bandeiras que são também minhas.

Sim, está tudo no manifesto. Mais um.

Felizmente - para a minha avaliação - o BE foi a única força política que apoiou o Syriza. O PCP disse que apoiou mas estava a fazer figas de trás da costas.

Sim isso permitiu desmascarar a Alemanha, país em que aparentemente o BE tinha muita confiança. Sim a dívida era negociável pela Grécia (ou por Portugal) em condições muito vantajosas. A europa e os estados unidos iam ficar em pânico pela aproximação aos enormes recursos dos BRIC. Se não fosse a Alemanha. Hitler de saias.

CDS

Resumo: O CDS é um partido conservador de direita. O mundo estava certo à 100 anos e qualquer coisa que se passou depois, era melhor não se ter passado (ou seja, os nossos avós é que estavam certos).

O CDS tem várias faixas que têm coexistido razoavelmente bem.

Há uma primeira faixa que vem regime anterior a 1974. Todos os políticos que exerciam a sua actividade de forma legal, ou abandonaram a política foram para 2 partidos. A saber: CDS ou o PSD.

Para o CDS vieram os que nunca tinham feito nenhuma crítica aos pilares fundamentais do antigo regime. O outros foram para o PSD (ver PSD). Foi dessa altura que se afirmaram centristas, numa perspectiva de se distanciarem do regime deposto. Aparentemente na altura não havia partidos de direita, desvio que todas as forças sentiram.

Numa segunda faixa estão os monárquicos. Apesar do Salazar ter feito deles gatos-sapato, nunca tiveram coragem de deixar de o apoiar, com a mítica ilusão que o fascismo português poderia, depois da morte do Salazar, instaurar a monarquia, como em Espanha, apesar que nunca terem recebido nenhuma indicação sólida que isso poderia acontecer. Ficam no entanto satisfeitos quando os seus parceiros retiram o 5 de Outubro e faltam à comemoração. Continuam a contenta-se com pouco.

Finalmente há uma terceira faixa dos que não são monárquicos e nasceram depois de 1950. São actualmente maioritários e, ideologicamente, não se diferenciam muito das 2 faixas anteriores, excepto na questão de regime, mas a monarquia não lhes repugna. Por isso coexistem todos bem.

Pensam que a solução para o país está no bucolismo e numa industria dominada por patrões-capitalistas imaginadamente preocupados com os piores aspecto da vida dos pobres - enquanto isso não influir nos seus negócios e estilo de vida. Ao estilo da encíclica "Rerum Novarum" e suas sequelas.

LIVRE et al

O LIVRE é o novo NOVO miúdo no quarteirão. Tudo o resto leia-se o que disse para o BE. Mutatis mutandis.

Marinho e Pinto (partido do)

Imagino que o partido tem um nome, mas não me lembro.

Não é a primeira vez que um partido vive de uma pessoas (lembram-se do PR?). Mas caramba o Ramalho Eanes tinha sido presidente da República 10 anos e o arquitecto do 11 de Novembro. O Marinho foi bastonário 2 ou 3 anos.

MRPP

O MRPP vive numa contradição dialéctica. Linha vermelho ou preta? Saldanha Sanches ou Arnaldo Matos? Mao Zedong ou Deng Xiaoping? Morte aos traidores ou apenas orelhas de burro? Aliança com o PCP ou tomada total do poder? Saída da União Europeia ou da Europa?

PCP

Resumo: O PCP é marxista-leninista e o seu modelo é a URSS. A URSS que vem explicada na "História do PC da US". Mais sobre o ML no capítulo do BE.

Desde que Álvaro Cunhal assumiu a secretaria geral, expulsando os desviaconisas (vários significados) e os pacifistas, que o PC tem uma linha clara e abrangente. Não são conhecidas dissidências graves que não tenham levada à expulsão num rápido intervalo de tempo e mesmo dissidências moderadas conduzem ao ostracismo, mesmo que dentro do partido. Sem perdão. Como resultado não há senão uma faixa.

Até à queda da União Soviética as ideias eram bem claros. Em Moscovo estava a ser construído um homem novo, à imagem do qual todo o mundo, mais cedo ou mais tarde, iria aderir, construindo um mundo de paz, prosperidade, felicidade, liberdade e tolerância. Basta ler um qualquer exemplar do Avante para ver como isso é claro. E, é justo dizer, acreditavam MESMO nisso, bem pelo menos a grande maioria, que não ponho a ideia de que existem alguns para os quais o partido é ou foi o modelo de negócio.

Curiosamente depois do desmembramento regime soviético continuam a pensar exactamente o mesmo. E, não duvido, a acreditar.

Nunca teve qualquer dúvida em apoiar os solavancos da história, de Budapeste (retrospectivamente) a Praga, do Afeganistão a Angola. Da Ucrânia à Síria. Nunca o PCP deixou de apoiar a Rússia e em troca recebeu os recursos que lhe permitiram secar muito terreno à volta. Mesmo quando se tratou de apoiar o Estado de Israel, e depois deixar de apoiar, nunca existiu nenhum desvio de percurso. Tudo muito bem explicado à posteriori.

Essa fé inabalada e inabalável num passado e num futuro míticos dão uma certa paz de espírito e funcionam mesmo como atracção para quem gosta de ter uma solução simples para todos os problemas do mundo e uma explicação, ainda mais simples, para todos os males. Efeito nirvana.

PS

O PS surgiu quando o Mário Soares, no anos 60, se procurou posicionar. Teve a sorte, o saber, ou a intuição, de ver que o PCP tinha secado toda a esquerda (ver PCP) e que o regime vigente em Portugal não tinha futuro, a começar pela sua incapacidade de resolver a questão colonial.

Portanto colocou-se na posição da ala mais esquerda da internacional (socialista). Mais esquerda no sentido que em Portugal se assistiu, na década de 70, a uma compreensível viragem à esquerda de todo o espectro (mesmo o CDS se dizia do centro, ver CDS).

Mas fez isso antes da queda do regime. Não o tivesse feito e outros políticos poderiam ter feito um partido social democrata em Portugal. Por exemplo o PSD (ver PSD). Mas embora a internacional socialista tenha alguma latitude ideológica nunca em nenhum país existiu mais que um partido filiado nessa organização, pelo que me lembro.

Com a chegada ao poder de Reagan e Tatcher o PS teve uma crise na correlação de poder. As forças mais conservadoras acharam que estava na altura de liquidar também a internacional socialista. Juntamente com a URSS. Foram parcialmente bem sucedidas na primeira parte e totalmente na segunda.

O facto de o PS não se poder financiar nas elites, como o faz o PSD e o CDS torna-o mais vulnerável a negociatas, ainda menos claras que as negociatas do PSD e do CDS. E muito mais fáceis de atacar em tribunal.

O PS não tem faixas, mas um contínuo espelhando a internacional. Da social-democracia ao socialismo (penso que tem poucos trabalhistas).

PSD

O PSD foi formado pelos políticos que antes do 25 de Abril, exerciam a sua actividade de forma legal mas tinham alguma oposição de fundo ao regime que estão acabou. Vulgo: "a área liberal".

Não tivessem os capitães saído à rua, a maioria deles teria sido cilindrado pelo regime, ou então ter-se-iam arrependido e sido aceites de volta.

Tendo corrido as coisas como correram existiu uma onda de adesão à social democracia, num Portugal de 70 com uma tendência compreensível de viragem à esquerda. Talvez alguns por oportunismo. Talvez alguns numa convicção genuína.

Essa primeira faixa é hoje residual, se bem que exista. Por um lado porque quem já andava na política nos anos 70 é agora septuagenário.

Mas a principal causa que definhou essa faixa foi o facto do PS ter roubado essa bandeira (ver PS).

Outra faixa é constituída pelos liberais. Os que acham que as famílias e os estados devem seguir uma lógica de boas contas sem gastar mais do que aquilo que têm e que o estado se deve colocar numa posição minimalista, tatcharistas, dizem-se eles. Posição que até pode fazer algum sentido até se perceber que essas boas práticas não se estendem ao sector financeiro da economia que pode usar o dinheiro que não tem. Curiosamente muitas das pessoas  que defendem essas ideias estão ligada ao sector financeiro, deve ser coincidência, e não perdem nenhuma oportunidade para trepar na máquina do estado e sector-estado. Quando não, alimentam-se frequentemente na mesa do orçamento através de uma série de contratos atribuídos de modo realmente liberal - e subsídios.

Mas a terceira, e mais numerosa, faixa no PSD é simplesmente a faixa daqueles que estão a tratar da vida. Fizerem uma leitura da situação e concluíram que, durante a sua esperança de vida, é a melhor posição para uma vida mais próspera.

Alguns elementos dessa faixa vêm de partidos marxistas-leninistas, estalinistas ou maoistas, o que lhes permitiu juntar a inspiração liberal, com o que aprenderam sobre disciplina partidária, a "unidade face ao exterior" e a capacidade de obedecer às ordens, mesmo quando não são dadas.

MAS AFINAL EM QUEM É QUE EU VOU VOTAR?

Para já posso dizer que, salvo algo realmente inesperado, vou votar, mas só digo amanhã para ver se a CNE me manda prender.