2015-10-03

O que eu voto 3/3 - O voto útil.

Queria começar por fazer um elogia ao voto útil, que tal mal anda a ser tratado. Esta gente enlouqueceu. Só falta defender o voto inútil.

Infelizmente não voto por convicção. Nunca votei. Se votasse em convicção nunca votava. Nas não votar seria um voto inútil.

Também digo que não espero que a vida dos portugueses vá melhor nos próximos tempos. Há ventos de história a que não se pode resistir de imediato. E sim alguns portugueses têm andado a viver acima das suas possibilidades. Só falta dizer quais, e decidir onde se vão fazer os cortes. É aí a diferença possível.

Pensar de outra maneira é repetir os erros cometidos na Grécia (é pior porque nós podemos aprender com os erros cometidos na Grécia). O Estados Unidos podem negociar a sua dívida. A Ucrânia pode negociar a sua dívida. Israel pode negociar a sua dívida. Vai aparecer alguém com a massa.

Nós só podemos negociar a dívida com garantias reais, ou políticas, ou quando não nos tiver sobrado mesmo nada, nos tiverem levado tudo. De outro outro simplesmente não vai aparecer ninguém com a massa. O vil metal. Facto.

Se isso servir de algum consolo lembrem-se as condições em que se vivia em Portugal nos anos 60 e 70 (e provavelmente antes, mas desses eu lembro-me).

Por outro lado informo que sou defensor da capitalismo. Tenho esperança que apareça no futuro um sistema melhor, mas não apareceu nenhum que tenha dado provas. Nem lá próximo . O que não quer dizer que todos os regimes de base capitalista sejam iguais. E que o assunto não possa ser sujeito a discussão.

Que modelo defendo para Portugal? Um modelo que combata a burocracia, o nepotismo, o clientelismo, o corporativismo, a megalomania, a corrupção e o poder imenso que as corporações - que são todas de base financeira - têm sobre a economia e a política.

Um desenvolvimento baseados na ciência e tecnologia avançadas e amiga do ambiente, sem lirismos bacocos e baseada em modelos já experimentados só com um nadinha de invenção própria. Com base nos recursos que realmente temos (ou podemos adquirir sem grande custo) e em empresas e grupos ágeis e desligados do estado na medida do possível.

Colocando a país numa posição de defender a liberdade da informação, da privacidade pessoal mas não institucional.. Portugal tem o modelo do nearshoring nas novas tecnologias, aproveitando o clima, o cosmopolitismo, o respeito por quem é diferente, as boas ligações de comunicações e exportando os custos de energia+refrigeração, quando não for possível explorar alternativas baratas. Isto é apenas uma visão muito parcial da questão, mas é aparte com a qual se sinto à vontade.

Claro que não estou a desprezar a economia que tradicionalmente tem funcionada. Apenas a dar um direcção, pois penso que o que foi dito também se aplica.

Mas não é lirismo, No dia a dia convivo com muita gente, geralmente jovens, que vêm de outros países trabalhar em Portugal e por cá se radicam.  E os emigrantes portugueses, são uma mais valia, mesmo que a viver noutro país fornecem, para quem cá está, um canal de difusão de informação, nos 2 sentidos, precioso (e proporcionam pretexto para umas comemorações baris quando nos vêm visitar).

Mais, defendo um sistema fiscal que combata a fraude, no possível, centrando essa combate nas fugas milionárias aos impostos, fechando os buracos legislativos que o permitam e denunciando esquemas, cá ou no estrangeiro, que permitam essas fugas,

Uma rede social que assegure os cuidados básicos de saúde, habitação e educação, de modo a que as pessoas possam correr riscos profissionais.

Nunca nenhum partido teve o meu voto garantidamente, mas na actual circunstância voto PS. Um pouco por exclusão, assumo, mas é a vida.

O PAF tem como plano destruir toda a existente, apesar de fraca, rede de saúde e educação a preços controlados. Como poderão os trabalhadores assumirem os riscos de trabalho, necessários numa economia avançada e ágil, se tiverem a preocupação de pagar as contas do médico e da educação? Para além da casa e da comida.

Portugal entrará num modelo de desenvolvimento à chinesa, baseado em baixos salários, base de apoio às grandes corporações. Os irlandeses são o porta aviões dos Estados Unidos. Portugal pode ser o submarino da China, China essa que aliás nem está a passar um bom momento e portanto vai pagar mal.

Se calhar não há outro modelo, mas prefiro uns 500 mortos pela polícia, 1000 mortes à fome e 25% de desemprego antes de desistir de um modelo melhor.

O voto nos outros partidos é inútil. Mais nenhum outro, para além dos citados,  poderá ser determinante no governo. Poderiam eventualmente apoiar um governo PS? Vejamos.

O PCP nunca apoiará um programa do PS qualquer que ele seja. Não é assim que vem na "história do PC da US". Os parlamentos em que o PC não tem a maioria são parlamentos para encerrar (não dissolver, encerrar).  Não me lembro de ter acontecido de outra maneira. Com a oposição para a cadeia e fuzilada.

Não me lembro de algum PC-ML ter viabilizado alguma coligação, em algum lugar do mundo, nalguma data, a não ser a muito curto prazo, se não for o elemento mais forte. Lembrem-me algum caso que não tenha sido assim.

Podem dizer que se tem de encerrar a história, que isso já foi há 100 aos e em Portugal há 40. Eu digo que sobretudo não. Se a história não nos serve para nada, vamos passar outra vez pelos seus horrores. E claro o PC sempre foi firme ao afirmar que não renunciava aos seus princípios, portanto não há nada de novo a esperar.

O BE de esquerda pode apoiar o PS, certamente que pode, fazendo exigências que o PS não pode aceitar sem passar a imagem que está na rota do Syriza. E se o PS cedesse a essas exigências elas iram escalar. O BE tem o problema de não perder eleitorado para o seu adversário posicional, o PCP. Já antes tinha dito algures que o Syriza é o grande trunfo para as forças conservadoras da Europa ganharem eleições.

Acoitado a ser colado ao Syriza e simultâneamente suportar eleições a curto prazo o PS não teria alternativa de não ser distanciar-se e esperar pelo melhor.


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